No céu de estrelas contando Piqui

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Ainda não passava bem das 18h15, a escuridão já tomava conta de um dia inteiro de trabalho de “Vânia do Piqui”, uma das produtoras mais conhecidas da comunidade Malhada Redonda, zona rural do município de Porteiras, a 530 quilômetros de Fortaleza. Neste momento, um motociclista leva uma queda na estrada carroçável que passa em frente a casa de Vânia.


 


No bagageiro, no tanque da moto, onde tivesse espaço, muita saca de piqui; 300, 400 quilos ou mais de um dos frutos mais tradicionais do Cariri cearense. Logo atrás, uma família inteira vem caminhando depois da jornada “caçando” o piqui. Isso mesmo, caçar é o termo mais usado entre todos, de todas as idades, que participam da colheita do piqui. E o horário não é coincidência. É quando o piqui começa a cair do piquizeiro e fica mais fácil o trabalho de “caçar” o fruto. Dali, o produto segue para as feiras do Cedro, Juazeiro do Norte, Brejo Santo e municípios da região.


 


Vânia é uma das beneficiadas do Programa Brasil Sem Miséria, do Governo Federal, que em 2016 realizou sorteios entre os moradores mais carentes, em situação de pobreza e que moravam em casas de taipas. Hoje, várias dessas famílias são atendidas com as casas, cisternas e projetos produtivas. O financiamento prevê carência e o pagamento anual no valor de R$ 213,00 durante quatro anos.


 


Maria Silvânia Gomes, 30 anos, a “Vânia do Piqui” como é mais conhecida, explica que na época de colher o fruto, de dezembro até março, é sempre assim. ““Eles vão fazendo fila ali na ladeira da serra esperando o piqui cair das árvores, porque nessa hora da noite, umas seis ou seis e meia, todo mundo vai catando os piquis pra vender no Cedro, no Jardim e outras cidades”, diz Vania. Mas se alguém chegar na serra procurando a produtora de piqui por esse nome não vai encontrar. Chamando por Vânia do Piqui vai ser mais fácil.


 


Assistência técnica


 


“Ate então não sabia de nada sobre como me cadastrar, como vender o piqui, preço, como armazenar, nada. No começo foi difícil, mas hoje melhorou demais. Comprei a máquina embaladeira por R$ 2,4mil, o que não vendo guardo tudo no freezer e quando comercializo o piqui fora da estação vendo por um preço bem melhor”, comemora Vânia, que somente na tarde em que a reportagem contou a sua história ela colheu dois mil piquis. A produção de Vânia chega até os municípios de Juazeiro do Norte, Jardim, Milagres e Missão Velha. Enquanto algumas pessoas comercializam o quilo por até R$4,00, Vânia chega a ganhar R$6,50 no período de entre safra do piqui.


 


A aquisição da casa para substituir a residência de taipa aconteceu pelo Brasil Sem Miséria


 


Atualmente, a produtora vende para comerciantes que vêm até sua propriedade ou para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que atende a merenda escolar coordenada pela Prefeitura de Porteiras. Todo o trabalho de assistência técnica foi realizado pela Ematerce, através do escritório local neste município, supervisionado pela gerente Fátima Benício, explicando que havia o Projeto Flor do Piqui começando uma capacitação no local e a Ematerce complementou as orientações a partir do Programa Brasil Sem Miséria, do Governo Federal. “Realizamos o treinamento, o cadastro para que tivesse acesso ao financiamento bancário e hoje a sua realidade modificou bastante”, diz Fátima.


 


Quando vai caindo a tardezinha e a noite vai anunciando um céu de estrelas, jovens, mulheres, crianças, de várias regiões da Chapada do Araripe, vão se amontoando na Serra da Mata para “caçar” o piqui, o fruto que vai garantir alguma sustentação econômica por alguns dias ou meses durante o ano.


Dona de um bar e uma das produtoras do fruto mais importante e valorizado da região, Vânia vai atendendo a equipe da Ematerce e da reportagem enquanto negocia com compradores de piqui que vão passando na estrada. “Em maio, quando não tem mais piqui em lugar nenhum, eu chego a vender de 30 a 40 quilos por semana nas feiras e para compradores e ganho não só o produto, mas na embalagem também. Dependendo da quantidade faturo até R$300,00”, diz Vânia que pretende voltar a estudar pra aperfeiçoar mais o seu trabalho.


 


 


Assessoria de Comunicação Ematerce