Fetraece e o primeiro presidente da instituição são destacados pela luta durante Regime Militar

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A direção da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares no Estado do Ceará (Fetraece) parabeniza os membros da Comissão Nacional da Verdade (CNV) pela coragem, determinação e empenho na investigação dos graves crimes contra os direitos humanos praticados entre 1946 e 1988 (período entre as duas últimas constituições democráticas brasileiras), principalmente no período que compreende o Regime Militar (iniciado com o Golpe de 64). Foram dois anos e sete meses de apuração e o relatório foi finalizado e entregue para a presidenta Dilma Rousseff neste mês de dezembro. Dilma é uma das vítimas da violência cometida pelos militares, foi presa e torturada na época.


No relatório final que conta com centenas de páginas e divido em três volumes, a Fetraece e o primeiro presidente da instituição sindical foram destacados pelas lutas em prol dos trabalhadores/as rurais e consequentemente a violência sofrida por ir contra o Regime Ditatorial.   


Fundada em 19 setembro de 1963, poucos meses antes do Golpe, a então Federação dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Estado do Ceará (Faltac), hoje Fetraece, foi presidida pelo agricultor e sindicalista Vicente Pompeu da Silva, que era natural de Potegi, no Ceará, e que cresceu em Iguatu. Vicente Pompeu junto com outros companheiros fundaram 29 associações de trabalhadores rurais entre 1954 e 1963, entre elas a Associação dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas de Iguatu, a qual foi presidente e que em 1962 passou a ser sindicato.


Um dos fundadores da Fetraece, Vicente Pompeu passou pouco tempo ocupando o posto de presidente da instituição sindical, pois com o Golpe Militar, que iniciou com eventos em 31 de março de 1964 e declarado no dia seguinte, 1º de abril, a Federação sofreu intervenção já no dia 03 de abril.


O relatório destaca que no mesmo dia Vicente Pompeu já foi preso e encaminhado para uma cela no subsolo de um prédio da Polícia Federal, sendo conduzido depois para o 23º Batalhão de Caçadores do Exército.


Preso diversas vezes durante o período, a Comissão Nacional da Verdade aponta que em uma das vezes que deixou a prisão, quando Pompeu chegou à sede da Federação o prédio havia sido demolido pelo Regime e não restava nada. Documentos foram recuperados, já que antes de ser preso Vicente Pompeu enterrou algumas cartas sindicais no pátio da casa do vizinho.


Militante do Partido Comunista do Brasileiro (PCB), Vicente Pompeu conseguiu sair do Brasil e ir para Rússia, onde passou por formação política e aprendeu a ler e escrever. Aos retornar ao País, em uma palestra no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Fortaleza (foi um dos fundadores) em abril de 1974 foi preso acusado de ser comunista e subversivo.


O Relatório aponta que durante este período preso, ele passou pela experiência mais dura da vida. Durante a madrugada era torturado com choques elétricos nas orelhas e nos testículos. Vicente também chegou a ser pendurando algemado em uma mangueira onde passou dez dias, sendo quatro sem comer e nem beber. Em 1976 foi solto (confira imagem do alvará de soltura). Vicente Pompeu morreu em 2011 após um acidente cardiovascular.


Assim como o primeiro presidente da Fetraece, diversos outros companheiros de lutas do movimento sindical rural foram presos no Regime Militar. A luta incansável deles, sem temor de enfrentar uma ditadura na busca pelo melhor para a categoria e o povo brasileiro, solidifica e fortalece a Fetraece, ampliando a responsabilidade de cada um e cada uma que passe pela Federação.


O documento preparado pela CNV é uma rica fonte de pesquisa para se aprofundar no que realmente é um Regime Ditatorial e os crimes que são cometidos. Em tempos onde pessoas realizam manifestação contra uma presidente eleita democraticamente pedindo volta do militarismo, no mínimo desconhece o funcionamento de uma ditadura e a recente história brasileira.


 


Veja imagens do relatório da Comissão Nacional da Verdade em que aborda a luta da Fetraece e de Vicente Pompeu:



 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 



 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


Direção da Fetraece