Com a disparada da inflação, que continua registrando altas em especial em produtos básicos como alimentos, energia elétrica, transporte e botijão de gás, além das altas taxas de desemprego, que atingem 14,8 milhões de trabalhadores, o primeiro semestre deste ano terminou com recorde de famílias brasileiras endividadas. E vai piorar. Saiba por que.
69,7% das famílias brasileiras iniciam o segundo semestre de 2021 endividadas – a alta é de 1,7 ponto percentual em relação a maio, que registrou 68% de endividados e de 2,5 pontos em comparação a junho de 2020 (67,1%).
E pela segunda vez consecutiva, houve também alta na inadimplência, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Foi o maior patamar de endividamento familiar da série histórica da Peic da CNC, iniciada em 2010.
O endividamento das famílias vai piorar porque o mês de julho começa com reajustes de tarifas de energia, pedágio e saneamento, que vão pesar ainda mais nas despesas das famílias e nos índices de inflação, contribuindo para o reajuste de diversos itens da cesta básica.
Na terça-feira (29), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) definiu que a bandeira tarifária vermelha-2 passará de R$ 6,12 para R$ 9,49 a cada 100 kWh (quilowatt-hora) de julho até dezembro —um aumento de 52%.
Além disso, a partir do próximo dia 4, os consumidores atendidos pela Enel Distribuição São Paulo terão aumento na conta de luz. O reajuste terá um percentual médio de 9,44%. Para as residências, o reajuste médio será de 11,38%. Já para os clientes de média e alta tensão, como a indústria ou grandes lojas do comércio, o índice aprovado foi de 3,67%.
Pesquisa da CNC mostra que o vilão do endividamento é o cartão de crédito
As dívidas com cartão de crédito também bateram recorde, aparecendo como principal fonte de endividamento para 81,8% do total.
Entre as famílias com renda de mais de dez salários mensais, o cartão de crédito é o principal tipo de dívida para 82,6% delas.
O percentual de inadimplentes, ou seja, pessoas que têm contas ou dívidas em atraso, ficou em 25,1% em junho deste ano, acima dos 24,3% do mês anterior, mas abaixo dos 25,4% de junho do ano passado.
As famílias que sem condições de pagar suas contas passaram de 10,5% em maio para 10,8% em junho deste ano. Em junho do ano passado, o percentual era de 11,6%.
Famílias de menor renda sofrem mais com a inadimplência
O endividamento por grupos de renda apresentou novamente tendências semelhantes em junho, com as famílias nos dois grupos de renda atingindo proporções recordes de dívidas.
Para as que ganham até dez salários mínimos, o percentual de famílias endividadas saltou de 69% para 70,7% do total de famílias. Em junho de 2020, 68,2% das famílias nessa faixa estavam endividadas.
Para as famílias com renda acima de dez salários mínimos, a proporção do endividamento também teve incremento forte: de 64,2% para 65,5% em junho, ante 60,7% em junho de 2020.
Com relação à inadimplência, a proporção de famílias com contas ou dívidas em atraso na faixa de até dez salários mínimos aumentou de 27,1% em maio para 28,1% em junho, embora esteja na menor proporção desde dezembro de 2020.
No grupo com renda superior a dez salários mínimos, o percentual manteve-se estável em 11,9% na passagem mensal, mas é segundo maior percentual do indicador para meses de junho.
A proporção das famílias que se declararam muito endividadas segue aumentando desde março e chegou a 14,7%, maior parcela desde julho do ano passado.
Crédito pessoal, carnês de lojas e financiamento de carro se destacaram entre as modalidades mais procuradas em junho, além do vilão cartão de crédito.