Cem mil mulheres do campo, floresta e águas vieram para Brasília para demonstrar sua força e capacidade de mobilização. Do Ceará, foram duas mil. Mulheres que vieram mostrar que não concordam com a retirada de direitos, que tem consciência política e sabem que é preciso defender a democracia, a justiça, a liberdade e lutar por trabalho digno, educação, saúde e desenvolvimento sustentável e solidário.
Elas acordaram antes das 05h da manhã e às 07h já estavam nas ruas, tomando o Eixo Monumental rumo à Esplanada dos Ministérios. Até às 12h, caminharam empunhando com orgulho suas bandeiras, com seus chapéus, suas faixas, suas camisetas e, principalmente, com suas ideias e suas paixões. É preciso muita paixão para fazer a maior manifestação de mulheres da América Latina acontecer com tanto sucesso, paz e, ao mesmo tempo, forte militância.
Essas mulheres vieram depois de um profundo processo de formação política, no qual o Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares debateu o projeto de desenvolvimento que queremos: com inclusão social, soberania, igualdade, oportunidades para todas e todos. E mais do que isso, as questões específicas enfrentadas pelas mulheres rurais, como os diversos tipos de violência, o preconceito, a falta de reconhecimento do trabalho produtivo e doméstico, entre outros.
A secretária de mulheres da CONTAG e coordenadora da Marcha das Margaridas, Mazé Morais, avalia que todo o esforço realizado para a construção da Marcha valeu a pena. “Foram anos de trabalho e mobilização, e a construção coletiva com a comissão nacional de mulheres e com as 16 entidades parceiras tornou o processo muito rico e muito forte. Esse ato é de todas as mulheres, de cada uma que deixou suas casas e viajou milhares de quilômetros para estar aqui mostrar sua indignação com tudo o que está sendo feito contra os direitos trabalhistas, previdenciários, direitos humanos. As mulheres têm o poder de mudar a realidade e estamos aqui para dizer qual é a realidade que queremos”, afirmou Mazé.
A cearense Rita Martins Ferreira concorda com a secretária Nacional de Mulheres da CONTAG. Pela primeira vez na Marcha das Margaridas, ela se sente honrada em vir para Brasília como parte de um movimento tão grande de reivindicação de direitos. “Acho importante estarmos nas ruas porque muitas vezes nos sentimos fracos, achando que não podemos mudar nada, mas quando estamos aqui podemos ver que estamos juntos e somos fortes”, afirma a trabalhadora.
A gaúcha Tânia Regina Schenkel também acredita que ir para as ruas é fundamental. “Estou aqui porque se eu não vier lutar pelos meus direitos, quem vai fazer isso por mim? Todas as pautas das margaridas são importantes, mas me preocupo muito com a proposta de desmonte da previdência social”, explica a agricultora.
A proposta de reforma da previdência que tramita no Congresso também preocupa a trabalhadora do Mato Grosso do Sul Sônia Regina de Souza. Para ela, “é muito injusto que queiram mudar as regras para aqueles que já ganham pouco, enquanto não mudam para aqueles que ganham muito. Também é preciso acabar com a corrupção, quem sabe assim sobre dinheiro para os trabalhadores”, argumenta.
Estudante do curso de Educação do Campo e vinda de um vilarejo às margens do Rio Tocantins, a paraense Beatriz Sá também sabem muito bem porque veio marchar. “Como jovem margarida, defendo a educação pública porque só estou na faculdade porque existe uma pauta de educação para o campo, floresta e águas. Estamos aqui também para lutar contra tudo o que esse governo representa: o agronegócio, a misoginia, a violência contra a mulher, a valorização das armas, que é um projeto de morte para a juventude. Viemos hoje como mulheres e como juventude para dizer sim a um projeto de vida, de emancipação da classe trabalhadora, de soberania popular no Brasil e vida para as mulheres”.
Já a mineira Marilene Monteiro acredita que a Marcha é uma oportunidade para que a sociedade discuta a cultura machista que está por trás dos diversos tipos de violência contra a mulher. “A impunidade é muito perigosa, porque muitos homens cometem violência, mas nada ou quase nada acontece com eles. Muitos acreditam que têm poder sobre as mulheres e nós estamos aqui para mostrar que não vamos mais aceitar isso, que devemos ser respeitadas e temos direitos iguais”, aponta a agricultora.
Vinda do Peru, a dirigente Maria Tafur afirma que veio participar da maior manifestação de mulheres da América Latina porque acredita que a luta das mulheres rurais é a mesma em todo o mundo. “Enfrentamos desafios semelhantes e somos companheiras na defesa dos direitos trabalhistas, de luta contra a violência, de busca por igualdade e liberdade”. Já dirigente Adwoa Sakyi, vinda do país africano de Gana, acrescenta que a luta das mulheres rurais é de grande importância para garantir um mundo com mais justiça e oportunidades.
Foi com paz, beleza e também com muita força, determinação e militância que as margaridas marcharam neste 14 de agosto de 2019, mostrando para o Brasil e para o mundo suas pautas e demandas. Para saber mais, leia a Plataforma Política da Marcha das Margaridas, documento que reúne as propostas amplamente debatidas por milhares de mulheres do campo, floresta e águas do Brasil.
FONTE: Assessoria de Comunicação CONTAG – Lívia Barreto /
com inclusão do número de mulheres do Ceará
Foto: Janes P. Souza