Artigo – Participação e organização das mulheres no sindicalismo rural

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Da invisibilidade a descobertas


A história das mulheres não é só delas, é também aquela da família, do movimento sindical, da política, do trabalho, da mídia, da literatura. É a história do seu corpo, da sua sexualidade, da violência que sofreram e que praticaram da sua loucura, dos seus amores e dos seus sentimentos.


Muito se escreveu sobre a dificuldade de se construir a história das mulheres, mascaradas que eram pela fala dos homens e ausentes que estavam do cenário histórico.


Em sua obra clássica, “O segundo sexo”, publicada em 1949, Simone de Beauvoir faz uma observação pertinente: “uma mulher não nasce mulher, mas torna-se mulher”, esta frase estabelece um diálogo direto com o que diz Paulo Freire ao afirmar que “somos seres inconclusos”. É assim, ao longo da vida, que os passos dados nos ensinam a fazer um caminho de lições, aprendizados, redescobertas, superações e aprendizados.


As mulheres sempre estiveram em todas as lutas e movimentos políticos que marcam a historia do nosso país. Ao visitar o campo é comum vermos meninas trabalhando na criação de pequenos animais, carregar água para abastecer a casa, irrigar as plantas, cuidar dos irmãos e irmãs menores, participar das colheitas, fazer beneficiamento dos frutos, trabalhar nas casas de farinhas, em fim, aqui poderia colocar várias atividades produtivas das mulheres.


Portanto, visitar o campo significa presenciar as diferentes atividades desenvolvidas pelas mulheres trabalhadoras rurais. E foi vivendo esse universo de atividades e responsabilidades, que as mulheres despertaram o interesse natural de ser parte do movimento sindicato, de tomar lugar nos Sindicatos, nas Federações e na Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG).


Não se pretende com isso, tomar o espaço dos homens, significa ocupar politicamente, um espaço que também é seu.  A inserção das mulheres no universo sindical rural se deu especialmente através dos cursos ofertados e coordenados pelo MSTTR, foram nos espaços de formação que muitas mulheres começaram a compreender a causa dos trabalhadores rurais e a importância de sua inserção no processo.


 


As mulheres construindo trilhas no MSTTR


Como consequência do engajamento, da coragem e ousadia das mulheres trabalhadoras rurais, muitas ações foram desenvolvidas no seio do movimento sindical de trabalhadores e trabalhadoras rurais.  O Projeto Saúde e Gênero, as mobilizações no estado, a participação política qualificadas das mulheres na Marcha das Margaridas, e tantas outras ações importantes que fortalecem o movimento Sindical.


As ações específicas das mulheres trabalhadoras rurais mostra sua capacidade organizativa, articuladora e mobilizadora. E a criação da cota mínima de 30% de mulheres nos espaços de decisão politica do MSTTR, é sem dúvida, um mecanismo que assegura a efetiva participação políticas de sujeitos que foram historicamente excluídos dos espaços participativos e de poder.  A conquista da conta mínima afirma a democracia interna e a garantia de representação das mulheres nas instâncias deliberativas e nos espaços formativos.


Esta foi sem dúvida, a expressão maior do crescente protagonismo das mulheres, em sua dimensão política e simbólica. Iniciativa que deu visibilidade às trabalhadoras do campo com toda a sua diversidade étnico-cultural. A criação da conta mínima de participação das mulheres trabalhadoras rurais permitiu o fortalecimento do movimento sindical, e a inserção maior das mulheres nos sindicatos, nas Federações e na CONTAG.


Nesta caminhada as mulheres tiveram vários embates político no seio do movimento sindical, tiveram que lutar pelo o direito de ter direitos, várias vozes soaram ao mesmo tempo, vozes de mulheres que reivindicava do movimento, um lugar estratégico, em que ela pudessem ousar e  caminhar juntos com os homens, para uma nova e desafiadora ação sindical e consequentemente uma nova sociabilidade.


Os passos não param aqui, a igualdade na participação, nos espaços deliberativos e de poder, persiste como meta essencial para a construção da igualdade e do desenvolvimento verdadeiramente sustentável e solidário. Assim, o entendimento é de que a cota é o mínimo e a igualdade é o máximo que precisa ser alcançado.


 


Rosa Rodrigues


Assessora de Formação da Fetraece